Por Remy Gorga Neto (*)
Essencialmente, o cooperativismo tem a face humana e o ser humano se percebe na identidade cooperativa ao colocar em prática a sua essência.
É intrínseco ao ser humano exercer a prática da cooperação e isso se manifesta em quase todos os momentos da nossa vida, nas pequenas e corriqueiras atividades familiares, em nosso trabalho, nas alianças estratégicas das grandes corporações e até mesmo nas nações, ao se unirem em blocos continentais e econômicos.
Podemos creditar a nossa sobrevivência, nos primórdios da humanidade, à capacidade de unir esforços para vencer as adversidades impostas pelo ambiente hostil, cercado de ameaças e com escassos recursos.
A cooperação, inerente à essência do ser humano, tendo como objetivo o alcance de propósitos comuns, passa a se tornar um processo organizado com o surgimento do cooperativismo.
O modelo cooperativista, que traz na sua essência princípios e valores, estabelece uma correlação com a identidade humana que tem, na prática de valores e princípios morais e éticos, o alicerce que sustenta a estrutura da nossa sociedade.
Dessa forma, com linhas orientadoras simples, sintetizadas nos sete princípios, o cooperativismo se consolidou e está presente no mundo há quase dois séculos.
A palavra princípio tem origem do latim principĭum, que significa “origem", "causa próxima", ou "início”. Os princípios cooperativistas estabelecem um conjunto de diretrizes que orientam o funcionamento das cooperativas, tal como as pessoas se orientam por valores e princípios fundamentais em sua conduta social.
A aplicação do modelo cooperativista nasce da carência das pessoas em suprir alguma necessidade que individualmente seria inviável e que, cooperando informalmente, seria inexequível. Dessa maneira, o cooperativismo se distingue com a forma organizada de promover a cooperação entre as pessoas e tem a cooperativa como a entidade, personalidade jurídica, que, seguindo os preceitos estabelecidos pelos princípios conceituais do cooperativismo, coloca em prática o exercício da cooperação, atendendo e suprindo as necessidades das pessoas que voluntariamente se unem.
Essa união estabelece um pacto de cooperação cujo objetivo maior é o interesse coletivo em detrimento do interesse individual, resultando na redução dos custos, no ganho do poder de barganha e, consequentemente, no aumento da competitividade.
Ao analisarmos que o exercício da cooperação, no ambiente da cooperativa, está alicerçado em relações pessoais de confiança e solidariedade, que promovem a coesão associativa, percebemos mais uma correlação entre a essência do cooperativismo e a essência do ser humano.
Evidente que aqui não estamos abordando a dicotomia entre o que motiva o comportamento cooperativo e o comportamento competitivo, próprios do ser humano, que se estabelecem nas relações negociais e sociais dos associados e suas cooperativas, mas sim os aspectos intrínsecos à essência do cooperativismo e do ser humano em uma abordagem conceitual que os identifica e aproxima.
Ao revisitarmos alguns pensadores e teóricos que deram origem à filosofia cooperativista, como Owen, Fourier, Buchez, Blanc, King, percebemos um conteúdo humanitário, tendo como base a preocupação com o bem-estar social, valorizando o que hoje poderíamos denominar de relação ganha-ganha, protagonizada pelo cooperativismo.
Enfim, podemos divagar sobre a essência que permeia as bases cooperativistas e suas intrínsecas relações com os sentimentos e a essência do ser humano e chegar a múltiplos entendimentos. No entanto podemos afirmar que o cooperativismo tem se mostrado, principalmente nos dias atuais, como o modelo de negócios que mais reflete a face humana.
* Remy Gorga Neto é Presidente do Sistema OCDF-SESCOOP/DF
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